Lágrimas não são suficientes: seguimos em luta contra as agressões racistas, lesbofóbicas e machistas!

Nota Marcha das Vadias  DF

lesbofobia

Em três dias, duas agressões lesbofóbicas foram noticiadas em Brasília, Distrito Federal. Certamente, muitas outras também ocorreram aqui e noutros cantos do país, mas permaneceram invisíveis.

No Setor Comercial Sul, na última terça-feira (25/02/2014), no horário de almoço, um machista espancou duas mulheres lésbicas até uma ficar inconsciente. (http://migre.me/i55OP). Uma delas teve o braço quebrado e passou por cirurgia. O agressor trabalha no Hospital de Base, exatamente ao lado do local onde aconteceu a agressão. Foi preso, o que nem de longe resolve o problema. O que nos choca, ainda mais que a violência, é a falta de reação ou solidariedade de todas as pessoas que assistiam ao crime, num dos locais mais movimentados da cidade.

Ao final do samba da última quinta-feira (27) no Balaio Café – um dos poucos lugares de resistência, encontro e celebração da vida em nossa cidade, onde diversos grupos se sentem seguros – dois casais de mulheres foram agredidos com chutes, socos e xingamentos. Em agressões racistas e lesbofóbicas, os machistas gritavam “sua neguinha, puta” às mulheres (http://migre.me/i55SP).

A violência vivenciada no estabelecimento foi intensificada na própria Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher (DEAM), quando os pais de uma das garotas agrediram verbalmente a namorada da filha por ser negra e lésbica – a “pior companhia e pessoa sem alma”! As garotas convivem com a lesbofobia em suas próprias casas! Uma delas teve sérios ferimentos na cabeça e passa por exames para descartar a hipótese de hemorragia intracraniana.

Muitas vezes, as agressões acontecem em locais públicos e de bastante movimento. Ainda assim, na maioria dos casos ninguém que presencia a violência é capaz de reagir, de inibir o agressor ou se mobilizar com outras pessoas para impedir tamanha brutalidade. No Rio de Janeiro, no dia 14 de fevereiro, um casal de lésbicas foi agredido no meio da Lapa sem qualquer reação das pessoas que por ali passavam (http://migre.me/i57me). E, assim, a sociedade se omite! As violências continuam sendo naturalizadas! As vozes de quem apanha e sofre permanecem caladas.

A maneira como as polícias Militar e Civil do DF – e não só aqui –  atuam no atendimento às mulheres e LGBTs deixa – e muito – a desejar. Não nos sentimos seguras e, tampouco, protegidas por estas instituições. O Governo, seja Distrital ou Federal, também não nos representa. Não há legislação para coibir e/ou punir casos como os ocorridos nesta semana. Há, sim, silêncio e conivência por parte do Governo Federal e do Legislativo, que aceitam e cedem ao perigoso projeto de poder dos fundamentalistas religiosos. Em 2013, o Governo do Distrito Federal retirou o decreto que garantiria a punição administrativa dos casos de homofobia.

Numa sociedade em que pessoas se sentem no direito de supostamente fazer justiça com as próprias mãos e de externalizar toda forma de intolerância, com ódio de classe, de gênero e de raça, o crescimento da violência assusta. Dói, literalmente. Afunda crânios, acorrenta braços, espanca ao limite em plena luz do dia. Cotidiamente, agressões racistas, lesbofóbicas e machistas são invisibilizadas, menosprezadas e naturalizadas. Enquanto agridem e matam pessoas, enquanto a sociedade se acomoda indiferente aos nossos sofrimentos, nós carregamos as dores das agressões. Nós morremos!

Não mais! A rua é de todas! Deve ser livre para a demonstração de afetos, para a vivência das liberdades! É preciso ter políticas publicas que assegurem de verdade os direitos de vida e liberdade para todas as pessoas! A heteronormatividade e os fundamentalismos nunca nos impedirão de sentir, de desejar, de amar! Seguimos lutando para que a violência homo-lesbo-transfóbica JAMAIS nos impeça de demonstrar e expressar o que há de mais bonito, onde bem quisermos! Vamos trocar carícias, dividir segredos ao pé do ouvido, curtir músicas abraçadas, nos beijar! E vamos ocupar as ruas e os espaços com nossos corpos e comportamentos ~anormais~. Que violências e opressões não mais nos silenciem ou nos invisibilizem!

Nossa luta é todo dia! E, especialmente no mês de março, mês simbólico da luta pelos direitos das mulheres, precisamos nos unir e nos fortalecer. Gritar mais alto, sambar na cara do machismo, do racismo e da homo-lesbo-transfobia. Se carnaval é época de ser quem quisermos, que sejamos livres. Vamos construir a II Virada Feminista do Distrito Federal e dizer não a toda forma de opressão. Junte-se a nós!

Mulheres, vamos reagir! Não fiquemos caladas ou omissas quando a violência acontecer ao seu lado! Juntas somos muito mais fortes, mexeu com uma, mexeu com todas!

Brasília – DF, 28 de fevereiro de 2014!

Hoje o grito não é de carnaval!

Ontem quatro mulheres foram brutalmente agredidas no Balaio Café pelo simples fato de serem lésbicas. Uma agressão que, certamente, foi mais sentida pelas vítimas, mas que é contra tod@s nós lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e trangêneros. Um ato violento, indiscutivelmente machista, racista e lesbo-trans-homofóbico.

Antes de ontem foram duas mulheres! Hoje são mais quatro que vieram a público! Não podemos tolerar violências diárias contra nossos corpos, nossa orientação sexual, nossa condição de gênero e nossa raça/etnia. O machismo, o racismo e a lesbofobia precisam ser denunciados, os agressores punidos, e as pessoas vitimizadas protegidas.

Exigimos  uma resposta imediata do Governo, dos orgãos de segurança pública e de Direitos Humanos a respeito dessas violências. A insuficiência das políticas do governo não consegue responder de forma eficaz ao enfrentamento da homofobia, e à violência institucional cometida contra tod@s nós lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais  e transgênero.

O descaso do Governo do Distrito Federal, que sequer se pronuncia sobre muitos dos casos de violência discriminatória no DF, se configura como um desrespeito às pautas de Direitos Humanos e à luta dos movimentos sociais. No ano passado, o Governador revogou, horas depois de sua publicação, a regulamentação da lei que punia administrativamente a homofobia.

O Distrito Federal é uma das unidades da federação em que mais se registra agressões físicas à população LGBT. Além disso, o GDF possui uma Coordenadoria da “Diversidade Sexual” instituída à Secretaria de Justiça Direitos Humanos e Cidadania (SEJUS/DF), que pouco faz pela comunidade LGBT. Estes organismos precisam apresentar com urgência uma proposta de ação e medidas cabíveis para enfrentar esta violência.

Só esse ano no Brasil foram mais de 60 casos noticiados de assassinatos a pessoas LGBTs. O Brasil segue sendo o país onde mais se mata LGBTs. Apesar da dor, precisamos secar nossas lágrimas e responder de forma contundente ao ocorrido, nesse momento, em que a sociedade brasileira vê crescer discursos autorizativos da intolerância,  violência,   homofobia e racismo que têm sustentado atos hediondos de violência.

Fundamental transformarmos nossa indignação em ação e continuar nossa luta!!

Nesse carnaval sairemos em bloco na luta contra as lesbo-homo-transfobias, o racismo e o machismo!

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Assinam esta nota:

Associação Lésbica Feminista de Brasília – Coturno de Vênus

ANEL

Balaio Café

Bloco das Poderosas

CACoS – UniCeuB

CADir – UnB

CFEMEA

Cia Revolucionária Triângulo Rosa

Coletiva Baderna

Coletivo Babilônia LGBT

Coturno de Vênus

Famílias Fora do Armário

Fiu Fiu – UnB

Fórum de Mulheres do DF

Fórum de Promotoras Legais Populares do DF

Juntas/Juntos

MML – DF

Movimento Honestinas

Marcha da Maconha DF

Marcha das Vadias DF

PaguFunk

RUA – Juventude Anticapitalista

Sapabonde

Tambores de Safo

 nossa missão vai ser cumprida!

Violência doméstica contra mulheres jovens: Por que omissão não é neutralidade? ou Por que a solidariedade feminina é urgente?

Não é difícil deduzir, você com certeza conhece um caso parecido com esse:

Uma mina denuncia o namorado/companheiro por agressão e o cara conta a própria versão pros amigos: “não foi bem assim, o relacionamento tava conflituoso, a gente já tinha passado dos limites”, “foi só um tapa… foi no calor do momento, ela que é histérica, tá exagerando” ou “vocês conhecem a garota, ela é louca, tira qualquer um do sério, bem que tava merecendo umas palmadas de leve, né?”. Em pouco tempo essa versão se espalha. A mina também publiciza a versão dela: “a gente tava discutindo feio, gritando um com o outro, daí ele veio e me deu um tapa” ou “no meio da discussão ele começou a me bater, eu revidei”, “ele me viu conversando com um cara, chegou em casa me empurrando e me dando soco”. A versão dela também se espalha, mas o que a gente escuta nas rodas de amigos em comum é “a gente nem sabe o que aconteceu direito, não dá pra ficar julgando o cara, chamando ele de agressor sem saber de fato o que rolou”. O cara, então, continua a frequentar normalmente os espaços comuns entre os dois – shows, bares, casa da galera, faculdade, grupo de militância etc.

A pretensa neutralidade esconde um fato: um lado dessa história foi escolhido e não foi o lado dela. Instantaneamente uma rede se solidariedade se forma pra dar o apoio ao cara. É uma rede de solidariedade que parece invisível, por isso, é tão difícil de ser apontada. É uma rede de solidariedade perfeitamente naturalizada e, por isso, qualquer crítica feita a ela soa como um ataque sem sentindo de feminazis histéricas. Não quero dizer aqui que o cara tem que ser retirado de qualquer convívio social, tem que parar de frequentar todos os espaços públicos, tem que se trancar em casa para todo o sempre (como fazem crer que é o que as feministas querem que aconteça). O que quero dizer é que, nos ciclos de amizade comuns, o que geralmente se encontra são grupos que não cogitam sequer MINIMAMENTE, pensar em criar também zonas de conforto pra mulher que fez a denúncia. Porque parece que criar uma zona de conforto pra ela significaria assumir uma postura: a de que o cara é um agressor. Mas você não pode fazer isso porque não é um juiz né, cara? Nem é deus pra ficar julgando o que você não conhece, nem viu. Então você continua carregando seu brother pra todas as baladas, pra todos os botecos, pra todos os rolês na casa da galera – mesmo quando você sabe que a mina vai estar presente – afinal, quem é você pra julgar o certo é o errado, não é mesmo? Mas aqui vai uma novidade pra você, meu brother: VOCÊ ESCOLHEU UM LADO SIM E NÃO FOI O LADO DA MINA.

Por que você não falou pro seu amigo que estava sendo acusado de agressor coisas do tipo: “cara, você tava estressado pra caralho, mas mesmo assim NÃO É DE BOA dar um tapa em ninguém”, “sei que é foda no momento da discussão, MAS O QUE VOCÊ FEZ FOI ERRADO, NADA JUSTIFICA a violência física”, “tá rolando todo esse processo, que tal a gente ir pra outro bar hoje pra evitar encontrar a mina, ou quem sabe ficar aqui em casa tomando umas?”ou “vou perguntar pra fulano se ela vai nessa festa, se ela for, a gente faz outra coisa, NÃO É MASSA FREQUENTAR OS MESMOS ESPAÇOS AGORA”.  Essas sim são posturas de quem tá dando o apoio pro brother, mas também tá se solidarizando com a posição da mina. ACORDA, CARA, A OMISSÃO É SIM UMA ESCOLHA!

E por que a solidariedade feminina é urgente? Ela é urgente pelo simples fato de que se não formos nós, mulheres, a criarmos redes de solidariedade que tragam ao menos um pouco de conforto para as minas que sofrem violência doméstica, não vão ser os caras que vão fazer. [sei bem que toda a generalização é falha, existem vários caras que percebem a escrotidão dessa sociedade machista e buscam dar conforto também pra mina. Mas também sei que esses vários caras, infelizmente, são a exceção, inclusive nos meios politizados mais libertários]. Um das grandes crueldades da violência doméstica está no fato dela ser invisível. É uma violência considerada da ordem do privado. Quando o que está em jogo é a violência praticada e sofrida entre pessoas da mesma galera, o privado é a maior justificativa pra omissão. Se a mesma garota vier no mesmo grupo pra falar que foi estuprada, agredida, assaltada por um desconhecido na rua, NINGUÉM PÕE EM DÚVIDA SEU RELATO. Mas quando o agressor é da galera, aí não tem como saber. É mais fácil chamar a garota de histérica, louca, descontrolada ou dizer que não existe como saber de nada, que é melhor não tomar posição nenhuma na confusão. E a vida segue o fluxo, inalterada pra ele, forçosamente diferente pra ela.

Se nós, as minas, não formamos esses laços de solidariedade, mulheres vítimas de violência doméstica vão continuar sendo naturalmente excluídas de seus espaços de socialização e dos espaços públicos da cidade. Não vamos comprar o falso discurso da omissão e da neutralidade. Nem vamos acreditar naqueles que falam que a nossa união resulta em um tribunal sem provas. Solidariedade tem muito menos a ver com julgamento do que com conforto e apoio. Nossas redes de solidariedade não são naturalizadas, por isso elas são tão apontadas, criticadas, ridicularizadas e minimizadas. Mas não vamos nos abater, juntas somos mais fortes na busca por uma sociedade mais igualitária, menos machista, menos violenta, menos escrota.

aguas

Conheça o PLC 03/2013 e entenda por que queremos a sanção total

O projeto de lei n.º 3/2013 tem como origem o projeto de lei n.º 60 de 1999, criado com o objetivo de sustentar legalmente a política de prevenção e tratamento dos agravos resultantes da violência sexual contra mulheres e adolescentes, lançada no mesmo ano de 1999 e aprimorada em 2005.

Para que não fique nenhuma dúvida quanto ao conteúdo desse projeto de lei, colocaremos abaixo todo seu conteúdo, pontuando algumas observações (caso queira lê-lo no site do Senado Federal, clique aqui .

Projeto de Lei da Câmara n.º 3, de 2013

(nº 60/1999, na Casa de origem, da Deputada Iara Bernardi)

 

Dispõe sobre o atendimento obrigatório e integral de pessoas em situação de violência sexual)

Art. 1º Os hospitais devem oferecer às vítimas de violência sexual atendimento emergencial, integral e multidisciplinar, visando ao controle e ao tratamento dos agravos físicos e psíquicos decorrentes de violência sexual, e encaminhanto, se for o caso, aos serviços de assistência social.

Antes de mais nada é necessário entendermos qual a importância do atendimento nos equipamentos de saúde às mulheres que sofreram violência sexual:

A mulher sobrevivente de uma violência sexual grande parte das vezes encontra-se em estado de stress pós-traumático que a impede de lidar com todo o processo de registro de boletim de ocorrência e outras situações que a obriguem emitir relatos repetitivos sobre o ocorrido.

Portanto, o acolhimento dessa mulher no, muitas das vezes, primeiro atendimento que ela receberá é essencial para evitar sua revitimização e até mesmo facilitar a identificação do estuprador.

Por que, então, a defesa de veto total desse projeto de lei? Qual é o interesse nisso?

Não podemos nos esquecer que 44% dos hospitais brasileiros são hospitais filantrópicos, estando, muitos deles vinculados a entidades religiosas, que recebem isenção parcial ou total de impostos para fazer atendimentos pelo SUS.

A insistência ao veto total desse projeto de lei pode estar vinculada à recusa de grupos religiosos mantenedores de hospitais filantrópicos a fazer o atendimento adequado à pessoa em situação de violência sexual. Vemos, novamente, a imposição de crenças religiosas acima dos direitos humanos da pessoa que sofreu o crime tipificado, não por acaso, como hediondo.

Art. 2º Considera-se violência sexual, para os efeitos desta Lei, qualquer forma de atividade sexual não consentida

No dia 10 de julho de 2013, o Pe. Paulo Ricardo foi convidado para participar de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados e questionou a definição de violência sexual descrevendo o estupro conjugal como algo naturalmente aceitável.

Segundo a Lei Maria da Penha, art. 7.º inciso III, violência sexual é “entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; [que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;]”

Ou seja,  o que vimos foi uma apologia ao estupro conjugal em plena Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.

São essas as pessoas que se colocam contra a sanção integral dessa lei.

Art. 3º O atendimento imediato, obrigatório em todos os hospitais integrantes da rede do SUS, compreende os seguintes serviços:

I – dianóstico e tratamento das lesões físicas no aparelho genital e nas demais áreas afetadas;

II – amparo médico, psicológico e social imediatos;

III – facilitação do registro da ocorrência e encaminhamento ao órgão de medicina legal e às delegacias especializadas com informações que possam ser úteis à identificação do agressor e à comprovação da violência sexual;

IV – profilaxia da gravidez

 

Esse é o ponto que mais polemizam:

“A gravidez decorrente de violência sexual representa, para grande parte das mulheres, uma segunda forma de violência. A complexidade dessa situação e os danos por ela provocados podem ser evitados, nos casos de pronto atendimento, com a utilização da anticoncepção de emergência.”

(Norma técnica de Prevenção e tratamento dos agravos resultantes da violência sexual contra mulheres e adolescentes – Ministério da Saúde)

Caso a mulher não tenha conseguido passar por esse procedimento e se descobrir grávida do  estuprador é direito dela recorrer aos serviços públicos para abortar, caso assim decida. Enfatizando: a mulher não será obrigada a interromper a gestação.

É obrigação do Estado disponibilizar esse atendimento que é realizado apenas em hospitais de referência, em que uma equipe multidisciplinar é treinada e preparada para atender essa mulher.

V – profilaxia das Doenças Sexualmente Transmissíveis – DST

VI – coleta de material para realização do exame de HIV para posterior acompanhamento e terapia;

VII – fornecimento de informações às vítimas sobre os direitos legais e sobre todos os serviços sanitários disponíveis.

§ 1º Os serviços de que trata esta Lei são prestados de forma gratuita aos que deles necessitarem.

§ 2º No tratamento das lesões, caberá ao médico preservar materiais que possam ser coletados no exame médico legal.

§ 3º Cabe ao órgão de medicina legal o exame de DNA para identificação do agressor.

 Art. 4º Esta Lei entra em vigor após decorridos 90 (noventa) dias de sua publicação oficial.

 

O deputado e também pastor Marco Feliciano constantemente utiliza-se de mídias sociais para exaltar o seu poder de mobilização de votos do público de sua religião, fazendo disso pressão para que o executivo dance conforme sua música.

Nesses últimos anos, por muitas vezes, o poder executivo cedeu.

 

O recuo do Governo Federal na distribuição do Kit de Combate à Homofobia nas escolas e a demissão do diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais (Ministério da Saúde) após lançar a Campanha "Sou feliz sendo prostituta".

O recuo do Governo Federal na distribuição do Kit de Combate à Homofobia nas escolas e a demissão do diretor do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais (Ministério da Saúde) após lançar a Campanha “Sou feliz sendo prostituta” são exemplos dos recuos do Governo Federal frente à pressão de setores religiosos.

E agora, fica a pergunta à nossa primeira presidenta mulher:

QUANTOS VOTOS VALEM O CORPO E A MENTE DAS MULHERES VIOLENTADAS?

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Nós queremos a descriminalização do aborto! E você, Dilma?

MdV DF em ato contra o PL da Cura Gay, 27/06/2013. A faixa fez parte da performance contra o Estatuto do Nascituro ao fim da Marcha das Vadias DF, 22/06/2013.

MdV DF em ato contra o PL da Cura Gay, 26/06/2013. A faixa fez parte da performance contra o Estatuto do Nascituro ao fim da Marcha das Vadias DF, 22/06/2013.

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NOTA PÚBLICA SOBRE EXPULSÕES NA MARCHA DAS VADIAS-DF 2013

Antes de mais nada, gostaríamos de explicitar as razões pelas quais não publicamos esta nota anteriormente. A Marcha das Vadias – DF (MdV-DF) é composta por um grupo muito grande e diverso de mulheres que se organiza de forma horizontal para a construção da marcha. Entendemos que as expulsões realizadas, sempre polêmicas pela sua complexidade, demandavam uma discussão aprofundada e de qualidade. Assim, garantiríamos que a nota fosse o resultado de uma construção coletiva, consciente e responsável, e não de um posicionamento leviano ou hierárquico, partindo de poucas.

Esse debate foi energicamente realizado desde o dia de realização da Marcha (22/06) e se estendeu durante toda a semana seguinte. Tivemos também o auxílio de profissionais que trabalham com populações em situação de rua, que muito nos ajudaram nesse processo de reflexão e a quem agradecemos profundamente pelos diálogos e críticas extremamente válidas, que apenas começaram.

Para entender o ocorrido na Marcha das Vadias DF de 2013, é preciso compreender um pouco da nossa organização, que é dividida nas seguintes comissões: debates, comunicação, agitação/mobilização, trajeto e segurança.

Sobre a comissão de segurança da Marcha das Vadias do DF

O objetivo principal da comissão de segurança é garantir que a Marcha seja um espaço de conforto para as mulheres que dela participam e, também, de solidariedade feminista (tendo em vista que, desde a primeira marcha, recebemos ameaças recorrentes de agressões e “estupros-surpresa”). Para isso, utilizamos desde a primeira marcha (em 2011) o “escracho” como instrumento de ação, o qual consiste na publicização e expulsão de agressores por meio de gritos e buzinadas.

Frisamos que essa estratégia é compatível com os sentimentos que motivaram e possibilitam, ainda hoje, a própria existência da Marcha enquanto movimento (uma participação política múltipla em significados). Entre incontáveis outros fatores, os sentimentos de empoderamento, solidariedade e autorrealização (denominado por quem nos oprime como vadiagem, putaria ou sem-vergonhice) é parte fundamental da energia da MdV-DF. Nossa comissão de segurança preserva tal energia.

Quantas vezes os depoimentos de mulheres vítimas de violência são colocados em dúvida? Quantas vezes as escolhas não compatíveis com a cultura do assujeitamento feminino são utilizadas para nos culpabilizar pelas diversas violências que sofremos? Quantas vezes a cultura sexista e racista soma-se às discriminações de classe, região, idade, religião e outras na expressão de violências às mulheres?

Essas perguntas foram levantadas, escritas e gritadas em cartazes, corpos e vozes durante a Marcha das Vadias-DF de 2013. No entanto, a mesma problematização não foi feita em relação aos possíveis agressores. De fato, na hora da marcha, quando uma integrante da comissão de segurança ouve a buzina, segue imediatamente para o local da agressão no sentido de apoiar a ação das demais companheiras. Não questionamos a ação das outras integrantes na hora por entendermos que, se a buzina foi apertada, uma violência sexista ocorreu. Seguimos a compreensão de que “mexeu com uma, mexeu com todas”.

No caso de mulheres agressoras, decidimos conjuntamente a metodologia de dialogar com elas para que se retirem da marcha, já que, naquele ambiente dividido por vítima e agressora, a primeira se encontraria muitas vezes incomodada e com receio de continuar marchando. Essa decisão foi tomada depois de muitas discussões e de nos depararmos com agressoras na 1ª MdV-DF (2011). Naquela fase, salientamos um recorte de gênero fundamental, mas ainda não tínhamos pensado sobre outras ramificações, como homens que estivessem em situações mais vulneráveis e fossem agressores.

Durante a marcha, orientamos xs participantes a denunciarem caso houvesse algum tipo de violência sexista. Abaixo, o panfleto distribuído ao início da Marcha 2013:

Panfleto Orientações Marcha

Sobre a expulsão de homens negros em situação de rua

Diante da exposição de um vídeo sobre a expulsão da Marcha de um homem negro, em situação de rua e aparentemente sob efeito de álcool e/ou outras drogas, foram feitas inúmeras críticas, acolhidas seriamente por nós. É importante explicar que a situação ocorrida não foi completamente apresentada no vídeo e alguns relatos. O vídeo mostra apenas um fragmento e um ângulo do que aconteceu e propõe uma interpretação limitada da cena.

Algumas críticas como “o homem só estava levantando a camisa” ou “elas não deixavam ele sair dali” nos soaram simplistas diante, inclusive, do próprio vídeo, que mostra o homem em questão levantando a blusa e, também, tentando abaixar a bermuda, sendo agressivo. Mostra, igualmente, o círculo feito pela mídia, que formou uma barreira impedindo a saída dele da Marcha.

Minutos antes do momento captado no vídeo, o mesmo homem já havia gritado para uma manifestante: “levanta sua saia, quero ver sua bucetinha”. No momento da chegada da comissão de segurança ao local onde ele estava, o homem xingava uma manifestante, ameaçando bater nela com a muleta. Diante da situação, uma escolha foi feita: a buzina foi acionada e houve a tentativa de retirá-lo da Marcha –  ação padrão da comissão de segurança nesses três anos de Marcha das Vadias, como comprovam as imagens abaixo:

Dois momentos de expulsão de agressores na Marcha das Vadias-DF: a primeira em 2012 e a segunda nesse ano, minutos antes da expulsão do homem em situação de rua. (Fotos: Túlio Fortuna e Nilton Kaz)

Dois momentos de expulsão de agressores na Marcha das Vadias-DF: a primeira em 2012 e a segunda nesse ano, minutos antes da expulsão do homem em situação de rua. (Fotos: Túlio Fortuna e Nilton Kaz)

Esse homem foi expulso exatamente da mesma forma que um fotógrafo branco havia sido expulso poucos momentos antes, por ter oprimido e constrangido algumas manifestantes (na foto acima, à direita). O que motivou o aperto da buzina não foram questões raciais, mas sim o fato de ele ter sido considerado um agressor naquele momento. Temos inclusive outro vídeo, filmado mais de perto e em outro ângulo, com os momentos que antecedem a gravação divulgada. Nele, há cenas em que o homem pega no pênis e ofende as meninas que estão à sua frente, como fica explícito na imagem abaixo:

Print do vídeo da expulsão

O vídeo acima mostra que quando várias mulheres se reuniram buzinando e gritando para que ele saísse, ele virou de frente pra elas, pegou no pênis e ofendeu-as repetidas vezes. Em seguida, virou-se de costas para as mulheres e, ao notar a presença de muitas câmeras à sua frente, levantou a blusa e começou a mostrar a barriga. No momento em que ele fez menção de abaixar a bermuda e expor a genitália, uma senhora negra disse a ele que não fizesse isso e levantou em sua frente um cartaz (que denunciava a polícia racista e o genocídio da juventude negra). Ele bateu no cartaz, virou-se de costas e tentou se retirar dali, mas a barreira de fotógrafxs e cinegrafistas que se formou em frente à cena o impediu. É importante ressaltar que não foram as manifestantes que o impediram de sair, visto que nós pedíamos justamente pra que ele se retirasse: quem impediu a passagem dele foram xs fotógrafxs da imprensa. Ele fez sinal para que xs fotógrafxs abrissem passagem, mas ninguém se moveu. Foi então que uma integrante da comissão de segurança abriu passagem entre xs fotógrafxs e ele conseguiu sair. Optamos por não divulgar esse outro vídeo para não expor ainda mais a identidade desse homem, que já foi exposto a milhares de visualizações pela ação da MdV e pela repercussão do vídeo na internet, mas nos dispomos a apresentar o vídeo aos grupos que tiverem interesse em ter uma visão mais ampla do ocorrido e colaborar conosco nos debates e reflexões sobre o caso.

O que percebemos é que a violência sexista praticada por esse homem não foi problematizada na maioria das críticas às quais tivemos acesso. Foram críticas que pareceram desconsiderar ou minimizar a possibilidade de opressões e agressões sexistas que ocorreram antes do ponto em que o vídeo começou a ser gravado. A invisibilização e a hierarquização de uma opressão em detrimento da outra pode ocorrer quando uma rede complexa de opressões entra em conflito, tornando possível que uma das opressões anule as demais. Por outro lado, esse foi também o grande erro de ação da Marcha das Vadias do DF, no caso específico desse homem em situação de rua. Um erro que tem como origem uma série de outros erros estruturais na própria formação da MdV-DF, como, por exemplo, a dificuldade na desconstrução de privilégios que fazem parte do cotidiano de muitas de nós, o que muitas vezes nos leva a reproduzir as opressões que buscamos combater.

Considerando que aquele homem também é constantemente oprimido – pela sua classe, sua situação de rua, sua saúde debilitada e sua cor – não poderíamos agir de maneira a igualá-lo a um agressor qualquer.  Tivemos alguns cuidados durante a passagem da marcha, como o de proteger as pessoas que dormiam no chão da rodoviária para que não fossem pisoteadas pela multidão ou de avisar antecipadamente todxs comerciantes da rodoviária que ali passaria uma marcha feminista. Acreditamos, portanto, que faltou dialogar também com a população em situação de rua, pois, ao marchar pelos espaços públicos da cidade, estamos também entrando no ambiente em que essas pessoas vivem. Não percebemos que a situação de vulnerabilidade na qual ele se encontrava deveria ter sido motivo suficiente para que ele não fosse jogado na mesma “caixa homogênea” em que colocamos todxs xs outrxs agressorxs. 

Na verdade, em três anos de Marcha, essa “caixa” nunca havia sido devidamente problematizada. Por isso entendemos que todas as críticas, inclusive aquelas com as quais não concordamos inteiramente, têm sido importantíssimas para a nossa caminhada de luta por um mundo livre de opressões. Sabemos que é uma longa caminhada e que passa por processos constantes de (des)construções, auto-reflexão e auto-crítica, além de muito diálogo com outros movimentos. Mas é uma caminhada que precisa ser construída coletivamente, procurando superar as resistências apresentadas por nossas identidades e subjetividades.

Entendemos que a ação de expulsão com buzinas (“o escracho”) foi excessiva em relação a esse homem, na sua situação de vulnerabilidade, e que devemos  repensar a forma de abordagem de possíveis agressorxs em situações similares. Também entendemos que essa reflexão não deve ser apenas sobre como a organização da MdV-DF e as manifestantes agiram, mas deve alcançar também como isso se reflete na nossa sociedade, em especial pela postura da mídia e da PM na situação.

No momento da expulsão do fotógrafo branco, minutos antes, a mídia não fez a mesma cobertura que ocorreu na expulsão seguinte. Quando o homem branco foi expulso, em vez de uma barreira para encurralá-lo, uma repórter da grande mídia tentou entrevistá-lo para ouvir “seu lado da história”, o que a comissão de segurança impediu. Nessa ocasião, a polícia cercou o fotógrafo branco para “protegê-lo” de um eventual ataque da Marcha. Nota-se, mais uma vez, a presença do racismo estrutural que fez com que o branco fosse protegido e acolhido pela polícia e pela mídia, que nada fizeram para proteger o homem negro marginalizado: ele, ao contrário, foi exposto pela mídia e criminalizado pela ação da PM.

Sobre a Marcha das Vadias no DF

Estamos nas ruas há três anos. Inicialmente, éramos apenas um grupo de mulheres na sua maioria branca e classe média que sentiram a necessidade de ir às ruas para denunciar as mais variadas formas de machismo e violência contra a mulher. Já no segundo ano, percebemos a necessidade de dialogar de maneira mais ampla.  Além de termos agregado mais diversidade de mulheres (especialmente lésbicas, mulheres mais velhas, negras e mulheres da periferia), percorremos caminhos de estratégias para que a marcha fosse cada vez mais plural e atenta à existência dessa pluralidade, e foi justamente o que tentamos trabalhar na nossa campanha fotográfica “Feminista por quê?” e no vídeo irônico “Ai, que vadia”. Mas as recentes críticas colaboram para nos mostrar, mais uma vez, as nossas falhas de alcance, assim como o debate com mulheres trans e outras formas de vivenciar a identidade de gênero.

Em 2013, sentimos a urgência de nos posicionarmos diante de alguns temas mais específicos, como o Estatuto do Nascituro e a legalização do aborto, no vídeo “O corpo é meu”. Quisemos reivindicar cada vez mais o fim da cultura do estupro (no vídeo “Não estupre!”) e o nosso direito à cidade, com a campanha fotográfica “A cidade é nossa”, nos somando às manifestações que ocupam as ruas de todo o país.

Nesse esforço de desconstrução de privilégios/opressões e pensar diversidades, tivemos a criação de alguns Grupos de Trabalho para o aprofundamento de discussões sobre raça e lesbiandade, como o GT de mulheres negras e o GT de mulheres lésbicas, porém sem muito sucesso. Tivemos falhas de diálogo e, desde o ocorrido na última marcha, assumimos a postura de extinguir o GT de mulheres negras, para que seja evidenciado que o racismo opera na racialização de todas as mulheres: brancas, negras, indígenas, entre outras. Por isso, entendemos que o debate racial deve ser abraçado por toda a coletiva, com aprofundamento teórico, respeitando as experiências de cada mulher negra que faz parte da coletiva.

Algumas de nós – mulheres negras – nos sentimos profundamente magoadas pelas maneiras antifeministas com que outras companheiras negras nos acusaram, questionando não apenas nosso feminismo como também nossa militância e nossa composição dentro da Marcha. Questionando também nosso livre arbítrio de poder compor um movimento que seja plural, que se expressa com a diversidade de muitas mulheres e que caminha com altruísmo e sororidade com as diversas companheiras que participam de outras coletivas e movimentos sociais. Por outro lado, enquanto mulheres negras, sentimo-nos extremamente felizes com a disposição de outras companheiras negras em colaborar com nossas reflexões, inclusive, expondo seus processos de construção identitária, tanto dentro quanto fora da militância, e ponderando sobre as conjunturas de uma luta anti-racista entre diferentes pertencimentos etnicorraciais.

Aos poucos, estamos nos descobrindo como um coletivo mais permanente, com a necessidade de ações e reflexões para além da organização da marcha em si. Neste ano, por meio de um longo processo de amadurecimento interno, nós conseguimos construir nossa Carta de Princípios, com o intuito de sistematizar algumas discussões já consolidadas. Desde 2011, temos desenvolvido atividades feministas que ultrapassam o dia do ato: oficinas, cineclubes, retomes, debates, encontros, notas, seminários e conversas. De forma muito espontânea, fomos nos sintonizando.

Para muitas de nós, a Marcha das Vadias foi o primeiro contato com a militância social ou com os feminismos. Ainda temos muito a aprender e refletir sobre o combate aos preconceitos para que consigamos construir coletivamente um outro mundo, livre de opressões. Acreditamos que reconhecer nossos erros é o primeiro passo para esse aprendizado. Mas entendemos, também, que o que nos move é o combate a uma violência concreta, que vivenciamos e sofremos cotidianamente, e deslegitimar nossa luta e indignação, ou minimizar a opressão que sofremos, não pode ser o caminho para verdadeiras transformações sociais.

Pretendemos, com essas reflexões, dar um passo adiante na consolidação dessa coletiva de mulheres feministas. Para isso, contamos com apoio e abertura para dialogarmos com todxs aquelxs que foram críticxs à nossa atuação, nesse e em outros episódios. Podemos estar em frentes de batalha diferentes, mas, quando se tratar do combate às opressões e à desconstrução das desigualdades sociais, queremos somar forças sempre que possível.

Marcha das Vadias-DF, 2 de julho de 2013

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Nota prévia a respeito da expulsão de homens em situação de rua

A Marcha das Vadias/DF vem, através desta nota prévia, manifestar que o nosso silêncio prolongado diante do caso da expulsão de dois homens em situação de rua, na última Marcha, por agressão a mulheres manifestantes (tendo sido a primeira expulsão especialmente divulgada e comentada nas redes sociais), não significa, de forma alguma, negligência ou insensibilidade de nossa parte em relação à situação e às críticas. Desde o dia da Marcha, temos debatido exaustivamente essa questão e nos repensado à exaustão, na tentativa de aprofundar, dentro do coletivo da organização da MdV DF, tanto o debate racial, sempre tão difícil e necessário, como nossa relação com populações em situação de rua e movimentos da área de saúde mental.

Hoje, a Comissão de Segurança da MdV/DF realizará a segunda reunião para tratar do ocorrido e levar um posicionamento a ser discutido, coletivamente, na reunião geral de avaliação da Marcha, que ocorrerá no domingo. Por sermos muitas e pela multiplicidade de posicionamentos que existem dentro da organização da MdV/DF a respeito do ocorrido, compreendemos que qualquer posicionamento coletivo, ainda mais diante de uma questão tão complexa e delicada, tem de ser muito discutido internamente antes de tornar-se público. Por isso, contamos com a compreensão de vocês até o lançamento da nota oficial do coletivo organizador da Marcha das Vadias/DF sobre esses acontecimentos, no mais tardar até 2ª-feira, e desde já nos colocamos abertas a todas as críticas e possibilidades de diálogo. 

 

Marcha das Vadias/DF

E-mail: marchadasvadiasdf@gmail.co

Facebook: www.facebook.com/marchadasvadiasdf

Posicionamento da Marcha das Vadias/DF quanto às mobilizações atuais

Diante do atual contexto de mobilizações populares e ocupação das ruas, a Marcha das Vadias/DF vem a público explicitar seu posicionamento.

Nós nos somamos às lutas contra o aumento nos preços das passagens em várias cidades do Brasil e especialmente no Distrito Federal, onde o transporte público é caro, precário e insuficiente para atender a demanda de pessoas que se deslocam, diariamente, entre as regiões administrativas do DF e o Plano Piloto. Sabemos que, sendo as mulheres ainda as principais responsáveis pelas tarefas domésticas, as dificuldades de locomoção que aquelas que dependem do transporte público enfrentam são ainda maiores, pois, além da dupla jornada de trabalho (fora e dentro de casa), são obrigadas a perder várias horas de seus dias somente no trajeto entre casa e trabalho. Como se não bastasse, esse ineficiente transporte público nos obriga a ficar espremidas em ônibus e metrôs lotados, permitindo que homens se aproveitem disso para nos assediar e violentar, e faz com que muitas mulheres, especialmente as mulheres pobres, moradoras de regiões absolutamente abandonadas pelo poder público, tenham que andar longas distâncias sem qualquer segurança ou iluminação até as paradas de ônibus, quando muitas são estupradas ao longo desses trajetos. Por isso, também estamos na luta por melhorias no transporte público que assegurem condições dignas para que todas as pessoas possam ter, de fato, o direito à mobilidade urbana; para que o direito à cidade não seja usufruído apenas por quem tem carro; para que não apenas homens se sintam seguros em andar pela cidade.

Todas essas violências restringem ainda mais o direito das mulheres à cidade. O espaço público ainda não é nosso e, por isso, é necessário continuar a lutar por ele. Ainda precisamos nos unir a outras mulheres para conseguirmos andar com segurança pelas ruas escuras e desertas do DF, porque a capital federal não foi construída pra quem anda a pé, muito menos para as mulheres. Mas nós também temos o direito de ocupar as ruas.

Nos indignamos e nos manifestamos contra o recente avanço fundamentalista que visa restringir a autonomia das mulheres. Hoje, nossos direitos estão ameaçados porque políticos, Igrejas e lideranças religiosas se aproveitam da fé das pessoas para oprimir mulheres, homossexuais, negr@s e outras minorias políticas. O Estatuto do Nascituro quer aumentar o controle das religiões e do Estado sobre os corpos das mulheres e legitimar o estupro. Se for aprovado, vai impedir o aborto em casos de estupro e de risco de vida para a mãe, que já são permitidos por lei, além de dar direito de paternidade ao estuprador, forçando a mulher e a criança a conviverem com ele. Recentemente, a aprovação da “Cura Gay” pela Comissão de [desrespeito aos] Direitos Humanos da Câmara dos Deputados foi mais uma violência contra a população LGBT do país, que não possui sequer a liberdade de manifestar seu amor em público. E a criminalização do aborto é uma violência cotidiana sofrida por milhares de mulheres brasileiras. Existem, no Brasil, clínicas de abortos clandestinos em pleno funcionamento há mais de 20 anos. Não sejamos hipócritas, o aborto não deixa de existir porque o Estado proíbe. A diferença é que, enquanto classe média e média alta pagam pelo aborto de forma segura, as mulheres da periferia, a maioria negras, abortam em condições desumanas e completamente desassistidas pelo Estado. Lutamos para que a sociedade pare de fechar os olhos para todas as mulheres que morrem em decorrência de abortos clandestinos.

Nos somamos, também, às lutas contra as violações sistemáticas de direitos humanos, cometidas pelo próprio Estado, para viabilizar os grandes eventos esportivos como a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. Repudiamos as remoções forçadas de famílias para dar lugar a estádios, estacionamentos e condomínios de luxo para abrigar os ricos e os estrangeiros. Aproximadamente 200 mil pessoas já foram ou serão removidas de suas casas para dar lugar às obras megalomaníacas do “país do futebol”. Provavelmente, nenhuma delas terá condições de pagar o valor exorbitante de um ingresso para ver o Brasil jogar. Junto com as remoções, há também os superfaturamentos, a corrupção generalizada e o aumento da prostituição e exploração sexual de meninas e mulheres para atenderem aos turistas. O tráfico de mulheres para serem exploradas durante a Copa do Mundo já cresce em diversas cidades do Brasil, especialmente no norte e nordeste. Será que temos motivos pra comemorar? Essa Copa, afinal, é pra quem?

Aos protestos atuais, nós, enquanto mulheres e enquanto feministas, fazemos questão de incluir nossas pautas: acreditamos que qualquer movimento que se pretenda revolucionário deve combater toda e qualquer forma de opressão ou discriminação, seja por gênero, orientação sexual, raça, etnia, credo, classe social etc. Como afirmamos na nossa Carta de Princípios, acreditamos que o fim da violência contra a mulher está diretamente ligado à transformação dos valores conservadores e hegemônicos em nossa sociedade, assim como à superação do patriarcado, de todos os fundamentalismos, da lesbofobia, da bifobia, da transfobia, da homofobia, do machismo, do racismo e do capital

Por isso, nos assusta perceber, nos protestos recentes em que temos participado, a quantidade de gritos homofóbicos, machistas, racistas, elitistas e reprodutores de vários outros preconceitos que são entoados em coro. Já vimos cartazes pedindo a volta da Ditadura Militar e comentários agressivos e desrespeitosos quanto a indígenas e moradorxs de periferia que participavam do protesto. Muitas das integrantes da Marcha das Vadias/DF foram assediadas por manifestantes, bandeiras de partidos e de movimento negro foram queimadas, manifestantes partidárixs foram agredidxs. Cada vez que um grito de “filha da puta”, “viado”, “vai tomar no cu” aparece, como xingamento, várixs manifestantes ali são desrespeitadxs, o que demonstra que esses movimentos, por serem bastante heterogêneos, ainda não problematizam a reprodução de opressões em seu interior. Essa reprodução generalizada de discursos opressores e hegemônicos nos preocupa. E, por isso, trazemos aos movimentos a necessidade de promover esse e outros debates, para que a indignação coletiva não sirva de massa de manobra para manifestações fascistas a interesse dos setores mais conservadores e poderosos do país. As lutas históricas dos movimentos sociais do DF não podem ser invisibilizadas por discursos genéricos e despolitizados.

Sabemos da importância de juntarmos forças e lutarmos por uma sociedade melhor, mas não recuaremos em nossas pautas, porque elas não são menores. Em movimentos com pautas muito amplas, as pautas que envolvem o combate à violência de gênero ainda são tidas como secundárias, porque as lutas das mulheres são historicamente invisibilizadas. Por isso, apesar de haver dois protestos marcados para o próximo sábado, 22 de junho, próximos ao local onde ocorrerá a Marcha das Vadias/DF 2013, vimos informar que a Marcha das Vadias é um movimento independente e autônomo dos outros protestos que se realizarão no mesmo dia, pois temos pautas específicas e direcionadas ao combate à violência contra a mulher e às desigualdades de gênero, e buscamos a construção de um espaço livre de qualquer tipo de discriminação ou violência.

Por fim, enfatizamos nosso repúdio às ações extremamente violentas e desproporcionais que a Polícia Militar adota, hoje e sempre, na repressão aos movimentos sociais. É inaceitável que uma instituição criada nos tempos da Ditadura Militar para perseguir, reprimir e exterminar pessoas continue existindo até hoje. Até mesmo a ONU recomendou sua extinção, em virtude das execuções sumárias e graves violações aos direitos humanos perpetradas sistematicamente por essa instituição falida e corrompida. Repudiamos, principalmente, as violações cometidas por vários policiais militares contra as mulheres, nos protestos e fora deles. Há policiais que enfiam cacetetes debaixo de nossas saias nos protestos, cometem abusos nas revistas, estupram, ofendem e humilham nos chamando de “vadias”. Nos protestos e fora deles, somos vadias, porque esse é o lugar que o patriarcado e suas instituições nos reservam para nos manter sob controle. Mas não nos calaremos nem nos deixaremos constranger! A nossa resistência segue nas ruas, unidas e auto-organizadas, gritando ao mundo que MEXEU COM UMA, MEXEU COM TODAS!

E, por isso, convidamos todas as pessoas que se sintam contempladas pela nossa luta por liberdade a marcharem conosco no próximo sábado.

A revolução será feminista ou não será!

Marcha das Vadias DF | 22 de junho de 2013 | 14h | Em frente ao Conjunto Nacional (Praça do Chafariz)

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Nota de repúdio às/aos organizadorxs da Marcha do Vinagre

Nós, da Marcha das Vadias DF, manifestamos através desta nota o nosso descontentamento com as atitudes daquelxs que se consideram organizadorxs da chamada Marcha do Vinagre de Brasília. Recebemos uma notificação de que na reunião da Marcha dos Vinagre de ontem (19 de junho), onde aproximadamente 15 pessoas estiveram presentes, foi unânime a decisão de não fazer nenhum ato no sábado, dia 22 de junho, data em que a Marcha das Vadias sairá às ruas. Entre os motivos colocados estava o fato de que as duas marchas têm pautas muito específicas e, ao juntar as duas, poderia ocorrer a invizibilização de algumas dessas pautas. Outro motivo: muita gente da Marcha do Vinagre não se sente contemplada pela Marcha das Vadias e vice-e-versa.

A nossa surpresa foi que xs 5 organizadorxs da Marcha do Vinagre, que detêm a administração da página do evento no Facebook, passaram por cima da decisão tirada em reunião e de maneira vertical, hierárquica e unilateral, optaram por manter a manifestação no dia 22, alterando apenas o horário de início. O problema é que a concentração da Marcha do Vinagre está marcada para o mesmo local e o mesmo horário de chegada da Marcha das Vadias, o Museu da República, onde faremos alguns atos e performances antes de encerrar nosso protesto. Interpretamos essa decisão como um desrespeito à nossa luta que entra agora em seu terceiro ano de existência. Sabemos que na maior parte das manifestações políticas, principalmente nas que estão ocorrendo agora pelo Brasil, as pautas feministas são constantemente invisibilizadas e secundarizadas, e essa atitude dxs organizadorxs da Marcha do Vinagre deixa esse silenciamento evidente. A pauta de combate à corrupção parece se sobrepor, nos discursos gerais, às pautas pelas quais grupos historicamente orpimidos há anos têm se colocado nas ruas. O discurso padrão é de que esta – a luta contra a corrupção – é a grande prioridade do povo brasileiro no momento. É fácil falar que a prioridade é outra quando não é você que vai ser acusado pelo Estado caso sofra um aborto espontâneo. Ou que vai se enfiar numa clínica clandestina por não ter condições de ter um filhx naquele momento. Ou quando não é você que anda nas ruas com medo de ser estupradx. É óbvio que nossas pautas são secundárias para muitos desses movimentos, POR QUE AS PAUTAS DE GRUPOS HISTORICAMENTE ORPIMIDOS SÃO SEMPRE SECUNDARIZADAS!!!!

Buscamos travar um diálogo com essxs organizadorxs para tentar resolver este impasse. Em um primeiro momento recebemos a resposta de que seria impossível alterar local e data por que “toda a mídia já havia sido avisada sobre a manifestação”. Que tipo de movimento social é esse que pauta seus atos pela mídia, ao invés de pautar a mídia através de seus atos?! Marcamos uma reunião hoje (20 de junho), às 15h, para tentar resolver a questão. Ninguém da “organização” da Marcha do Vinagre apareceu para dialogar. Diante de tamanho descaso, resolvemos expor nossa indignação e alertar as pessoas que inocentemente participam dessa manifestação, para que fiquem atentas para a maneira com que essxs “organizadorxs” têm guiado os protestos, quais são suas intenções e sobre o tamanho do personalismo de suas ações. Se o movimento é horizontal como dizem, por que não criar comissões e fazer debates sobre como e quando as manifestações devem ocorrer, sobre as pautas, buscando tornar o movimento cada vez mais horizontal e politizado?

Nós somos vadias, somos mulheres feministas, que lutamos em marcha contra as discriminações de raça, sexualidade, gênero, credo e classe. Acreditamos que o fim da violência contra as mulheres está diretamente ligado à transformação dos valores conservadores e hegemônicos em nossa sociedade, assim como à superação do patriarcado, de todos os fundamentalismos, da lesbofobia, da bifobia, da transfobia, da homofobia, do machismo, do racismo e do capital. Consideramos que as manifestações e lutas feministas são urgentes, especialmente em um país que acaba de dar um passo significativo rumo à aprovação da cura gay e do Estatuto do Nascituro. Não podemos deixar que pautas genéricas como “o fim da corrupção” e “mais saúde e educação” façam sumir as nossas vozes e invisibilizar a nossa luta. Lutamos por um mundo onde todas as mulheres tenham direito a viver uma vida sem violências, a serem livres para seguirem os caminhos que desejarem e onde tenham pleno direito sobre o seus corpos. Lutamos por um mundo sem estupros, onde o aborto seja legal e as oportunidades sejam as mesmas para as mulheres e homens, negrxs, indígenas e brancxs. E ESSA TRANSFORMAÇÃO É SIM URGENTE!

Por isso chamamos todxs aquelxs que acreditam nessa luta que venham marchar conosco no dias 22 de junho, às 14h, com concentração na praça das fontes, em frente ao Conjunto Nacional. Às/Aos participantes da Marcha do Vinagre, pedimos que respeitem a data da nossa manifestação, que vem sendo organizada há três meses e que foi cuidadosamente pensada para não interferir na agenda de lutas do DF (por isso não fizemos a Marcha no dia da luta antimanicomial, por exemplo). Entendemos que nenhuma marcha, nenhum movimento consegue contemplar todos os grupos, todas as pautas ou todas as lutas. Existem diferenças políticas fundamentais entre as duas marchas aqui em questão, por isso enfatizamos a importância de não colidirmos as datas das manifestações.

Marcha das Vadias DF

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Nota de repúdio à tentativa de criminalização de movimentos sociais no DF

A Marcha das Vadias – DF repudia a recente exposição de membros do Grupo Brasil e Desenvolvimento (B&D) em rede nacional, assim como as detenções preventivas de pessoas ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), devido ao ato de manifestação #copapraquem na sexta-feira da semana passada (14 de junho de 2013).  Desde então militantes tiveram suas identidades expostas, de forma depreciativa e caluniosa como se fossem “terroristas”, pela Secretaria de Segurança Pública do Governo de Distrito Federal, em clara tentativa de criminalizar o movimento e restringir liberdades de atuação política dos membros do grupo.

Embora nossa Constituição tenha entre os objetivos fundamentais a construção de uma sociedade livre e a garantia do direito fundamental à livre manifestação do pensamento, casos de perseguição política são cada vez mais comuns. Sob o manto da democracia e da nossa constituição, temos a falsa segurança de que os tempos sombrios das perseguições durante a ditadura militar ficaram para trás. Entretanto, na tentativa clássica de deslegitimar a luta dos movimentos sociais, estes são com frequência alvos de tentativas de criminalização, bem como de manipulação por parte de governos e da mídia comprada que os apoia. O coletivo Marcha das Vadias DF repudia qualquer forma de cerceamento da liberdade de expressão e de manifestação, principalmente quando tem nítido caráter persecutório.

O movimento B&D e o MTST têm várias pautas que coincidem com as quais lutamos como Marcha das Vadias –DF. Integrantes de ambos os grupos  estiveram presentes em lutas conjuntas. Algumas integrantes do B&D também integram a Marcha das Vadias-DF.

Mayra Cotta, uma das integrantes do B&D que teve sua foto estampada em várias mídias, é uma companheira vadia. O Governo do Distrito Federal, assim como alguns veículos de comunicação tentaram estabelecer uma relação de incoerência entre o exercício de sua profissão e sua militância. A Constituição Federal garante a qualquer cidadã e cidadão o direito a manifestar-se e a protestar, independentemente do cargo que ocupe. Atestamos o comprometimento de nossa companheira com as causas pelas quais lutamos e reafirmamos nosso apoio e solidariedade a ela neste momento de perseguição política. Não nos calaremos! Mexeu com uma, mexeu com todas!

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